“Nazaré – não a terra, a mulher” de Katharina Franck. Música de Nuno Rebelo.
Fui convidada para escrever sobre a importância da Rádio. Lembrei-me do 25 de Abril. Eu tinha 10 anos e vivia em Lisboa. Com uma visão muito pessoal desse momento histórico, quero afirmar que as nossas vidas pessoais, os nossos anseios e paixões, podem fazer parte da História.
Ficcionei parte da vida da Nazaré, que, à época, era a nossa empregada doméstica. Uma mulher forte, independente e culta.
Não é uma reflexão politicamente correcta acerca da revolução, Não sou nem jornalista nem especialista em assuntos de política. Tenho questões pessoais com Portugal e com os portugueses. Escrevi um relato apaixonado sobre este país e o seu povo, ainda que se possa pensar o contrário no início do texto.
A descrição da sociedade portuguesa da época é baseada nos relatos dos meus pais e num livro de Curt Meyer-Clason, então director do Goethe Institut. Vi documentários sobre o Portugal pré e pós-revolucionário nos inestimáveis DVDs publicados pelo Expresso. Citações de Sophia de Mello Breyner Andresen, António Lobo Antunes e Herberto Hélder marcam clivagens na vida de Nazaré.
Quis para o texto uma música especial. E sabia das Guitarras Mutantes do Nuno Rebelo. Não só é um amigo desde esses anos de adolescência, é também um dos poucos músicos experimentais de cujo trabalho gosto verdadeiramente. O seu som é quente e cheio, cheio de significado também, sempre lúdico e profundamente artístico, sem se tornar pretensiosamente intelectual. Mal fala alemão, mas compreendeu imediatamente o significado e o meu estilo de narrativa, intuitivamente.
Quando comecei a pesquisa para o texto, telefonei à minha mãe.
Eu: Fala-me da Nazaré.
Ela: Olha, saiu recentemente um artigo numa revista de viagens.
Eu: Não. Nazaré. Não a terra, mas a mulher!
Katharina Franck, Janeiro de 2008
Uma crítica:
“Por vezes, a rádio mostra-se capaz de transgredir fronteiras e oferecer algo mais que as habituais produções pré-empacotadas. Nazaré, não a terra, mas a mulher, originalmente peça radiofónica, transforma-se numa performance ao vivo aclamada, um tributo à Portugal de grande intensidade narrativa.”
(Christian Deutschmann. Frankfurter Allgemeine Zeitung, 27 Abril 2007)